04 setembro 2007

Xures Extreme 2007


O Xures é, a meu ver, um daqueles eventos que se ama ou se detesta. Quem lá vai,vai pela duração extra, pela dificuldade técnica extra, pelo cansaço extra e, eventualmente, pelas paisagens magníficas. Quem vai porque pensa que vai ter um bom assunto de café, vai enganado! Muito enganado. Este evento é realmente Extreme.

A julgar pela listagem da organização, havia à partida cerca de 280 BTTistas distribuídos pelas 3 categorias. Destes só 105 participantes terminaram dentro do tempo limite. 30 dos quais tendo passado do traçado de 120km para o alternativo de 85km.

Não há palavras para descrever este evento. É duro a subir, é duro a descer e andar plano não é coisa que se faça muito. Muitas das vezes não sabemos mesmo o que é melhor, se subir se descer. Mais para o fim da prova, dói tudo o que é músculo, nas descidas não há dedos que travem a bicicleta e nas subidas as pernas só querem é voltar para trás. O cenário é de uma beleza sem igual e compensa bem o castigo.

Este ano a organização melhorou um ponto que quanto a mim tinha sido muito negativo em 2006. Este ano não houve tracks com dois sentidos. Lembram-se do vaivém às antenas do ano passado? Pois este ano, apesar de grande parte do percurso ser comum, o traçado era sempre único. Traçado que, quanto a mim, estava muito bom. Faz juz ao nome e cumpre o objectivo a que se propõe. Nas palavras do colega espanhol (Javier Otero Espiñera num.202) que me acompanhou na última grande subida aos 106km: "Nem os pros conseguem fazer isto montados."

Confesso que não estou em posição para comentar se o número de abastecimentos era suficiente. Os Mularaiders contaram com o apoio da "official MulaRaiders racing crew" que complementaram os abastecimentos da organização em beleza. Água só me faltou mesmo no final quando senti que se não refrescasse a cabeça, ia cair para o lado.

Reparei no entanto que para além dos abastecimentos regulares, os bombeiros (ou Protecção Civil) estavam bem fornecidos de água e faziam questão de a distribuir pelos participantes. Para não falar nos habitantes de Puxedo... tendo no ano passado sido os mais envolvidos na competição, este ano também entraram na logística da água. E era a mais fresquinha de todas!!! :D:D:D

Demorei a encontrar o meu ritmo. Só aí aos 50km é que comecei a sentir as pernas a "desenferrujar". Depois foi uma questão de trabalhar a regularidade. O Vasco Sousa fez-me companhia durante algum tempo e é, depois da ajuda ao WilRod em Proença, uma referência de companheirismo para os MulaRaiders.

Aquela parede que nos obrigaram a subir aos 90km partiu-me em três bocadinhos muito miseráveis e a descida que veio a seguir não ajudou nada na recuperação. Fiquei sem dedos para travar... ia alternando entre o indicador e o médio, mas eventualmente estes ficaram muito cansados e descobri que o mindinho não é lá grande coisa nas descidas...

O final em alcatrão foi uma dádiva dos céus. Estiquei as pernas como se não houvesse amanhã e tentei ainda recuperar alguns lugares. Tive muita pena do WilRod não ter estado comigo para terminarmos de braço dado. O Polar acusou falta de memória ao km 115 e deixou de contar. Não sei ao certo quanto tempo precisei para completar o percurso.

Seja como for, oficialmente nem entrei neste evento. Tendo chegado tarde e a más horas, a organização não me forneceu o chip de controlo. No entanto e uma vez que já tinha pré-pago a inscrição, lá me deixaram correr. Conclusão: foi a primeira vez em muitas corridas que quando passei a linha da partida, não estava lá ninguém! LoL Até que teve a sua piada...

Quem está de parabéns? Em primeiro a "MulaRaiders Support Crew" que esteve sempre à altura do serviço. Depois os Mulas pelas prestações mostradas (mesmo com os empenos e indisposições à mistura). "Last but not least" a organização, porque sinceramente não consigo lembrar-me de nada de mal para apontar.

Porque é que alguns malucos fazem isto? A mim, este evento funciona como um catalisador da alma. Esqueço as manias todas quando me vejo numa subida onde já nem consigo pedalar. Sinto-me mais forte por saber que ao respirar aquele ar da montanha superei algo difícil. Dou valor ao sofá quando desço os single tracks cheios de calhau que fazem doer até os dentes. Sei que tenho amigos fantásticos quando ao sair daquela curva rápida, se levantam apressados para me encher o camelback de água. Faço-o pela excelência e pelo espírito MulaRaider.

Para o ano estamos lá...

sites relacionados:
Xures Extreme no ForumBTT e no ProjectoBTT.

Site da GeaPro
tracks GPS:
Xures Extreme Menorquina 62km 2007 (.gdb)
Xures Extreme BikeMagazine 85km 2007 (.gdb)
Xures Extreme Chep 110km 2007 (.gdb)


4 comments:

El Pinto disse...

O pa... estou com a lágrima ao canto do olho... :-)
Revejo-me em tudo o que tu descreves embora com um maior grau de empeno :-) e concordo a 120% com tudo o que dizes.
Mais uma vez a qualidade do teu post faz que tudo o que eu aqui escreva seja tao "piqueno".

É um orgulho enorme ser Mularaider e ainda por cima ser vosso amigo!!!

"...Sei que tenho amigos fantásticos quando ao sair daquela curva rápida, se levantam apressados para me encher o camelback de água..."

Nesta frase dizes tudo ou quase tudo... Para alem de nós mais alguem tinha este miminho?!!! Não me parece

Unknown disse...

Eu só gostava de saber como é que consegues escrever tanto, depois não tens força nas pernas para fazer as subidas... :D

BruMau disse...

Este post fez-me lembrar aquela música do Bonga... "...Tenho uma lágrima no canto do olho, tenho uma lágrima no canto olho...".

Só quem passa por estas experiências bttistas, é que pode compreender tão bem as tuas palavras Quick.

wilrod disse...

Este homem é um poeta...
Granda posta, Mister :-)

Esta posta ate valorizo (ainda) mais esta prova e a quem participa sentir-se até algum orgulho..
Ainda há herois, sem capas...e espada!

hihihihi

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